quinta-feira, 8 de julho de 2010

Como você escuta?



Já que GC pode ser também definido como um processo sistemático e disseminador de conhecimento, compartilho com os caros leitores, meu artigo sobre o texto Escutatório de Rubem Alves. Espero que apreciem.




“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.” Rubem Alves.


Em particular não acredito que seja necessário sermos pessoas com deficiência para escutar o outro, como por exemplo os surdos e mudos ou os cegos que tem sua audição apurada para o menor dos barulhos. É necessário que nos tornemos pessoas sem nenhuma filosofia, uma vez que de acordo com o texto original “Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.” Para ser um bom ouvinte precisamos nos libertar dos pensamentos.


É sempre assim: quando o outro diz, queremos logo contar a nossa história a respeito do fato contado, dizer que nossa história é mais triste ou o pior dar o famoso palpite. O dito popular é certo, se conselho fosse bom, não se dava, vendia. Então qual a necessidade que temos em não ouvir o outro por inteiro e refletir sobre a fala ou fato contado.


Acredito que a problemática esta em se auto ouvir, ouvir sua própria alma, seu coração, ouvir o que sua boca fala, o que seus pensamentos produzem, ouvir seu corpo, ouvir-se. Só que isso requer maturidade, desprendimento, vontade de mudar. E o pior gera dor e sofrimento, afinal conhecer-se e deliberar sobre a própria vida nos traz gasto de energia física, emocional e dor.


O corpo fala se manifesta de várias formas, é preciso aprender a ouvi-lo, senti-lo. Observar o corpo físico é uma outra forma de escutar, ouvir. Às vezes estamos em silêncio com a boca, mas o corpo esta gritando por algo. Os olhos é o espelho da alma.


Para ouvir o outro é necessário o silencio interno do ouvinte, é necessário que a cabeça esteja vazia e o coração aberto. É preciso estar calado, como quem ouve uma sinfonia.


Dias desses, resolvi que era o momento de emudecer, emudeci para o mundo, para as pessoas, para mim mesma. Durante um dia fui somente ouvinte, ouvinte da minha pessoa e de todos aqueles que se aproximaram. Foi difícil, ouvir sem palpitar, ouvir meu corpo, meus sentimentos, meu coração e minha alma. Mas no outro dia, fui mais ouvinte de mim mesma e dos outros, a experiência do dia anterior me mostrou o quanto é importante saber o quanto estou ou não preparada para receber as outras pessoas, ouvir as outras histórias, mas principalmente me deu a certeza de que preciso me ouvir mais.


Após o meu período de emudecer, tirei um dia para falar, “gritar” a mim e ao mundo meus pensamentos e opiniões, quis avaliar quantas pessoas estavam prontas para serem ouvintes. Poucas, de todas as pessoas que estive naquele dia, somente uma ou no máximo duas, me ouviram e refletiram sobre tudo o que falei, todas as outras opinaram, aconselharam, contaram suas histórias sobre as minhas.


Só ouvimos por inteiro o outro quando nos convém, quando sentimos que nos será útil de alguma forma. Hoje dentro do mundo corporativo em que estamos inseridos é assim que acontece, as pessoas só escutam aquilo que realmente irá trazer algum beneficio pessoal. Poucos pensam no coletivo.


Sou enfermeira, e diariamente as pessoas chegam até mim com essa queixa, os lideres só querem falar, seus pares só escutam aquilo que lhe convém e as tais reuniões de feedback só um fala.
Escutar ativa e empaticamente é certamente uma das habilidades menos desenvolvidas e mais negligenciadas na maioria das organizações. (A influência decisiva). Em contrapartida se esta habilidade for trabalhada, pode aumentar significativamente o grau de comprometimento, colaboração e empenho dos funcionários.


O medo de ouvir o outro é tão grande, que lideres despreparados não aceitam feedback em 360°. Querem somente falar e nunca escutar. Líderes devem praticar a escutatória o tempo todo, refletir sobre seus liderados e suas opiniões, afinal é assim que se faz um time, um grupo. Todos juntos, compartilhando informações, opiniões, trabalhos, sentimentos. Cada um na sua função, mas todos em prol do sucesso conjunto. Sabe ouvir e refletir aquele que luta e trabalha em favor do todo, para que o brilho do sucesso também o ilumine.


Para que a qualidade da interação se intensifique o texto A influência decisiva cita que devemos:
- quando alguém nos diz algo devemos escutar ativamente, sem interromper, procurando analisar se realmente estamos entendendo o ponto de vista do outro ou se temos informações suficientes para continuar;
- Se a resposta ao item acima for não, devemos pesquisar mais e de preferência com perguntas abertas;
- Se a resposta for sim, deve reconhecer os sentimentos e preocupações do interlocutor, sem fazer juízos de valor ou comentários negativos;
- É necessário deixar o outro responder aos nossos questionamentos;
- Só então deve responder finalmente ao que o outro disse, oferecendo soluções e sugestões construtivas, tendo o cuidado continuo de não fazer juízo de valores ou comentários hostis.


O texto de Rubem Alves me traz essa reflexão, a de que escutar não é somente estar com a cabeça vazia, mas sim com o coração aberto. Após ter conhecido o texto, resolvi por alguns dias emudecer e depois falar. Trouxe para a minha vida particular e profissional a escutatória. E posso garantir que fiz a melhor opção.


Postado por: Cristina Zafred Zanaga

2 comentários:

  1. No começo do MBA, a professora dizia que as pessoas deviam fazer cursos de ESCUTATÓRIA (Palavra até entäo desconhecida no meu vocabulário).
    Fiquei atenta enquanto ela desenvolvia o raciocínio, e ela concluiu, afinal de contas as pessoas fazem cursos e mais cursos de oratória, aprendem a falar bem, falar mais, falar na hora certa...
    Mas näo aprendem a ouvir. Precisam de um curso de escutatória!
    Pensei:
    "- Meu marido fez!!! Quando fico brava, eu falo, falo, falo e ele só escutatória..."

    Ana Vicente

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  2. Um bom processo para aprimorar as praticas de conhecimento nas organizações é desenvolver a escuta, aprender a ouvir bem e atentamente é um exercicio para formação do que se vai falar com equilibrio e coerencia, devemos exercitar mais a audição.
    Sérgio Ribeiro

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