segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PERFECCIONISMO - E A GRAMA DO VIZINHO.....

Somos basicamente movidos pela inveja. Calma não se assuste com a minha afirmação. Lí isso na revista Vida Simples – sim, é uma das minhas leituras mensais. A matéria fala sobre Perfccionismo, e aqui eu vou fazer um resumo sobre tudo o que li e entendi. Caso queira saber mais: Revista Vida Simples – Agosto de 2010.

O desejo que dispara nossa vontade de consumir é o de querer ter ou ser o que o outro tem. Ninguém inveja algo fácil de se obter. Então, ofere-se o que é mais difícil de conseguir, o mais perfeito, o mais feliz, o mais bonito, o mais amoroso, elegante, sensual, enfim, o “mais mais” de qualquer coisa que possamos invejar. Há em nós um desejo de ter ou ser tudo o que a mídia oferece, e uma maneira de nos aproximar disso é comprar ou fazer tudo o que nos dá a impressão de sermos tão perfeitos quanto o que vemos na TV, na revista, no jornal, na internet, ou até mesmo nos amigos e pessoas próximas. Mas não paramos para pensar no que estamos realmente fazendo conosco, com a nossa vida, saúde, auto-imagem.
Assim, somos todos perfeccionistas. Posto que a perfeição seja mercadoria escassa nesse mundo naturalmente imperfeito. Ninguém vai nos contar que realizar o sonho de manter todas as áreas da vida sob controle é impossível apesar de todo esforço. E isso é mais perverso e triste da historia toda: a perfeição, mesmo quando atingida e se atingida, só nos chega aos pedaços e aos poucos.
O que parece é que nunca temos o suficiente, e que não somos bons o bastante. E isso é muito nocivo.
E é esse desejo de perfeição que alimenta toda nossa estrutura capitalista, social e cultural. Mais e melhor é o grande produto oferecido por um sistema que nos apavora com o medo de envelhecer, ficar gordo, ultrapassado ou feio e que no propõe soluções imediatas para resolver esses mesmos “problemas” (se é que são problemas). Procuramos o tempo todo por um corpo idealizado, perfeito, lindo, não por um corpo sentido, vivo e vivido.
Segundo a psicóloga Regina Favrem, entrevistada pela revista, duas grandes doenças estão testemunhado nossas reações diante desse desafio da perfeição: a síndrome do pânico e a depressão.
E por que será que desejamos a perfeição de maneira tão obsessiva?
“Há o mito construído por essa mesma estrutura mercadológica de que se não formos perfeitos, jovens e belos seremos excluídos. O que temos é o medo da exclusão, da obsolescência. É esse o fantasma que nos ameaça: sermos jogados fora do mercado, seja profissional, seja sexual ou produtivo.” Diz Regina.
Esquecemos algo fundamental: que sofrer, arriscar-se sem garantias, sentir-se inseguro e provar sentimentos de perda ou falta fazem parte da riqueza de experiências que a vida pode nos proporcionar. Há uma condenação geral dos processos naturais da existência, Enfim, excluem-se as possibilidades que pertencem ao viver.
O resultado? Ficamos cada vez mais hesitantes em experimentar verdadeiramente o sabor da vida, com suas disparidades, imprevisibilidades, erros e acertos. Ao optar pelo controle que vem atrelado ao desejo de perfeição, perdemos cada vez mais o aprendizado e o encanto dos enganos que a existência pode nos oferecer.
Boa notícia: uma vigorosa contracorrente a esse tipo de pensamento já está na sociedade. “Ela questiona e rejeita essa configuração de estilos de vida rigidamente perfeitos. Emergem novos tipos de valores que se distanciam do modelo da perfeição e falam de novas posturas que incorporam conceitos como o desapego e a noção de impermanência, por exemplo. A sociedade de consumo não é mais o padrão ideal.”
“Tomar conta da configuração de si é um ato político”, afirma Regina Favre. Ser responsável pela própria saúde, pelos alimentos que consumimos, pelos ritmos internos e necessidades pessoais é uma nova posição de vida, mais consciente e individualizada, e não mais só coletiva e imposta. Mesmo que isso ainda leve um tempo para acontecer.
E entra em dúvida nossa capacidade de fazer julgamentos justos sobre os parâmetros que usamos ao avaliar a perfeição. Isto é, estalamos nosso chicotinho à toa quando decidimos que não somos perfeitos e que isso é suficiente para nos condenar à desgraça. A maioria dos nossos julgamentos não resiste a um simples exame de lógica: são superficiais, enganosos e altamente falhos. A grande revolução começa ao sentirmos mais o corpo, ao termos um contato mais profundo e próximo com ele.
Com esse conhecimento, abre-se o espaço para o nascimento de uma nova consciência, mais independente e autônoma.
Inveja, medo, competição, são essas as emoções que nos colocam a serviço de modelos impostos pela sociedade. É por competitividade que lutamos por um suposto território, é por inveja que consumimos.
E que como nos livramos disso?
Não temos idéia de como a simples respiração pode nos ajudar a nos libertarmos dessas emoções e do domínio que elas nos impõem, diz um pesquisador entrevistado. Respirar melhor traz mais clareza de raciocínio: podemos ver mais nitidamente onde estamos amarrando nosso burro. E, com isso, talvez possamos enxergar melhor os esquemas furadíssimos em que às vezes nos metemos.
A meditação é outra ferramenta que é fortemente incentivada entre os pacientes que são acometidos pela síndrome do pânico e a depressão, justamente para que possa ser facilitada a liberação de padrões rígidos de pensamento e, com isso, de comportamento. A perfeição não é mais a única meta, mas o equilíbrio, a harmonia e o bem-estar. Sinal de que o mundo está mudando mesmo. Até em áreas anteriormente tão resistentes a outros saberes quanto à medicina.
Depois que limpamos bem esse terreno, já é possível ver que geralmente usamos o desejo de perfeição da forma errada, por motivos fúteis, e para atender necessidades estimuladas por uma estrutura mercadológica de consumo.
Almejar a perfeição, portanto, pode nos levar a grandes realizações e feitos, a um aperfeiçoamento constante, até a obtenção de uma qualidade exemplar. Mas por vezes o preço é alto.
O desejo de perfeição não é, por si só, ruim. Não se encarado dessa maneira generosa. Nossa grande questão é, e sempre vai ser, onde vamos colocar esse desejo.

Fonte: Revista Vida Simples - Agosto 2010

Postado por Cristina Zafred Zanaga

4 comentários:

  1. Amei o post. Acredito que a inveja que você mencionou aqui é a inveja boa! Chamaria até de admiração, que é quando desejamos uma qualidade ou bem de outrem de uma forma saudável.
    Bjs

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  2. O preço da perfeição criada pela nossa imaginação pode ser senão uma fuga, ou melhor uma forma de sentir-se amada, aceita, adequada, mas o preço disso e muiiito alto, por isso o equilíbrio e o bom senso devem estar presentes. Adorei a matéria!!! Maria Fernanda

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  3. Muito bom Cris, a postagem vai bem de encontro com nossa ultima aula de GC de ontem, e realmente é um sentimento que todos conscientemente ou não sentimos, concordo com a psicologa Regina, temos que arriscar mais, e como diz a musica do Titãs "viver mais", acredito que seja a fonte de conhecimento o ärriscar-se mais".
    Sds
    Sergio

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  4. Ana, Fer e Sergio, o comentário de vocês traz um pouco de cada coisa que eu penso. Acredito que exista a inveja boa, aquela sem maldade e que nos impulsiona e levantar e buscar por coisas que queremos e acreditamos. Assim como a inveja que a Fer citou, essa nos é prejudicial, faz a vida não seguir em frente e nos estaciona no tempo com a vontade de ser e ter o que outro nos mostra. Ter equilibrio e bom senso é fundamental em qualquer situação, mas é necessário quando estamos em uma analise comparativa seja de vida pessoal ou profissional.
    Cristina Zafred Zanaga

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